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Duas pontes danificadas, uma terceira totalmente arrancada, um museu debaixo d´água e uma Unidade Básica de Saúde fechada por tempo indeterminado. São alguns dos principais estragos deixados pelas chuvas do final de semana que em algumas localidades, como o Gruppelli - no 7º distrito de Pelotas -, teriam alcançado em torno de 190 milímetros em oito horas, no sábado (26). Regiões como o Cedrinho, na Colônia de Pescadores Z-3, e o Pontal da Barra, no Laranjal - já afetadas por enxurradas em julho e em outubro de 2015 - voltaram a ser atingidas. Nenhuma família chegou a ser levada para abrigos.
No Gruppelli, desde domingo, ainda sem energia elétrica durante a manhã, a cena já era de mutirão. O transbordamento do arroio Quilombo abriu, literalmente, rastros pelo caminho e a água invadiu os prédios. Nesta segunda-feira, as marcas permaneciam nas paredes e o som dos aparelhos de lava-jato e as pilhas de colchões, almofadas, cobertas e até livros e revistas revelavam a necessidade urgente de limpeza. O primeiro passo para avaliar prejuízos.
Na Unidade Básica de Saúde um cartaz na porta anunciava a medida: Posto interditado devido (a) alagamento por tempo indeterminado. Do lado de dentro, desolação. Prontuários médicos encharcados, remédios perdidos, geladeiras ao chão com o estoque de vacinas comprometido. Uma lâmina de lama espalhada por toda a UBS. Mesas, cadeiras, pequenas estantes... O mobiliário, simplesmente, flutuou. Resta, agora, a faxina geral para a equipe - que circulava pelo local, desanimada na tarde desta segunda - ter condições de contabilizar as perdas. Enquanto isso, as cerca de 800 famílias atendidas pela UBS terão duas alternativas: aguardar pela retomada das atividades ou recorrer a UBSs das proximidades, como a da Colônia Maciel.
Susto generalizado
A correnteza espalhou medo entre os moradores. Uma corda chegou a ser estendida, como prevenção, para quem precisasse cruzar a estrada. No restaurante e hotel Gruppelli, os hóspedes ficaram concentrados na parte de cima da cabana, enquanto as águas invadiam com força e batiam a aproximadamente 1,30 metro de altura. "Os mais antigos contam que só teve coisa parecida por aqui em uma enchente em 1958", afirma o empresário Paulo Ricardo Gruppelli. A expectativa é de que, no final de semana, as portas já estejam reabertas ao público. Até lá, além de limpeza, parte das paredes também deve receber retoques na pintura.
No Museu, em prédio ao lado do restaurante, o cenário também era desolador. Como símbolo da violência das águas, o livro com mensagens de carinho deixadas pelos visitantes totalmente empapado. Murais com desenhos da criançada e peças do acervo cobertas de barro também serviam de síntese dos estragos. Até o momento, não é possível dimensionar as perdas, até porque boa parte do acervo - que retrata costumes, hábitos e a forma de sustento no campo - tem valor afetivo; explica Paulo Ricardo. Afinal, a ligação dos Gruppelli com a localidade já ultrapassa os 140 anos de história, desde a chegada dos bisavós ao interior de Pelotas, em 1875. "E isso que ainda nem olhamos como ficou a reserva técnica, guardada em prédio do outro lado da rua".
E, ao desabafar, o empresário destacou o alto volume de chuvas - medido em pluviômetro instalado na propriedade -, mas não poupou críticas à prefeitura, que nunca teria realizado a limpeza do leito nem a retirada de parte do aterro da cabeceira, previstas na sequência da construção da ponte de concreto erguida sobre o arroio Quilombo; fatos que teriam dificultado a vazão. "Eu diria que 40% desses estragos são efeito da ação humana", arriscou.
Contraponto
Ao se manifestar, no final da tarde desta segunda, o secretário de Desenvolvimento Rural, Carlos Bento, limitou-se a sustentar que o alto índice pluviométrico seria a razão do transbordamento do arroio Quilombo. "Ali não foi o único lugar onde tivemos problemas". Uma ponte de madeira, na Colônia Francesa (no 7º distrito), arrancada pela enchente, seria o exemplo mais emblemático. Uma ponte de concreto, no distrito de Santa Silvana (6º), que dependerá de manutenção na cabeceira, e a ponte nas proximidades do arroio Sujo, na entrada da Colônia de Pescadores Z-3, que precisou funcionar em meia-pista, também serviram de argumento ao secretário.
Um levantamento completo, possivelmente nesta terça, deve indicar a lista de prejuízos disseminados pela zona rural de Pelotas.
Esforço concentrado
O revezamento entre, pelo menos, sete moradores buscava dar fim útil à grande quantidade de terra carregada com a inundação. Além de cobrir a frente e a lateral das residências, o material também começava a servir de nivelamento ao campinho de futebol, um dos principais pontos de encontro e de lazer à comunidade. A enxurrada arrancou parte de um muro e toda a tela que cercava o local.
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